Where are you from?

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Encontrar quarto em Amesterdão só é ultrapassado em dificuldade por encontrar uma virgem no Red Light - embora estas saiam mais em conta. Por isso, quando há três semanas o Armand, jovem jurista descendente das melhores famílias do Suriname me disse no seu Inglês macarrónico "Ok,the room is yours, I have a good feeling about you!", escusado será dizer que rejubilei de felicidade e me enfrasquei em cogumelos mágicos (por acaso não, mas parecia!).

Como o quarto é numa zona nova da cidade, numa bonita ilha perfeitamente natural feita há cerca de dois anos chamada Ijburg, tive de aguardar umas duas semanas para fazer a mudança. De momento, estou em Almere, a 40 min. de Amesterdão, morando com o Yon, um Holandês-Asiático fascinado por Salsa, por Zouk e, como as desgraças nunca vêm sós, por comprar coisas via internet de que não precisa mas "It was really cheap!". O inconveniente, além do tempo perdido em viagem, é o preço dos transportes, que ronda os €16 por cada ida a Amesterdão.

Estava eu muito feliz da vida, apesar de ponderar já com alguma seriedade o aluguer de uma vitrine no Red Light para fazer face aos €450 de renda mensais do quarto do Armand, quando me constou que havia um OUTRO quarto, por €375, e que tinha de ligar a um tal de Emmanuel, assim e coiso e tal.

Lá mandei sms, esperei, falei com o homem, combinei hora, apanhei o eléctrico, passei toda a cidade até chegar a Slootervaart, na zona Oeste, liguei de novo e esperei já na paragem indicada. 20 min. de viagem: longíssimo! Pelo menos 15 min. de bicicleta - intolerável... ah, que saudades do Metro de Sete Rios, e da paragem de Sta. Cruz - Damaia, venturosa e muito mais colorida culturalmente! Um gajo vê-se assim, sozinho, numa zona plena de requinte suburbano Holandês e até se sente intimidado, e começa a reflectir sobre questões de alguma profundidade... por que raio ninguém tem marquises de alumínio?

Quando o tal de Emmanuel chegou, lá fomos, "hello" p'ra cá e p'ra lá, rent p'ra cima, room p'ra baixo... Dali a bocado, pergunta ele "Where are you from?" - pergunta fatídica, porque na verdade ninguém é de Amesterdão, a que respondi, com a timidez natural do imigrante do Terceiro Mundo "Oh... Portugal" (fico sempre na dúvida se sabem sequer onde isso fica). Curiosamente, sabia:

- Epá, és Português? C'um caneco, pá - estou cá há doze anos! Dá cá um bacalhau!

TUGA RULES, pá!

E pronto - afinal chamava-se Emanuel, o que é muito menos requintado - mesmo à Tuga! vejam lá se o Emanuel Nunes, quando passou a viver em Paris, não ficou logo Emmanuel (claro que depois saíu o filme, mas aí já nada havia a fazer- qualquer coincidência entre o erotismo e sensualidade de ambos é pura ficção!).

O quarto era impecável e €75 mais barato - mas não conheço o verdadeiro dono, o Emanuel está de saída. Arrisco, deixo o Armand agarrado e poupo umas massas? Ou vou-me entalar?

Humm... decisions, decisions... decisões, pá!
C'um caneco!

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