Grandes feitos

domingo, 31 de janeiro de 2010



Há quem pense que eu tenho mau feitio e que nunca deixo escapar nada. Assim visto ao longe até parece ser verdade...eventualmente a meia distância também...pronto...esqueçam lá este intróito.

Isto a propósito duma notícia que passava em rodapé no telejornal da RTP Açores deste domingo. O.K., é domingo e estava em rodapé, mas não queria deixar de partilhar convosco para vos alegrar o dia (ou a noite se estiverem na Austrália).

A notícia era, e vou tentar escrever isto sem me rir muito...hahaha...ok...não consegui, mas a notícia era: "Alpinista açoriano Luís Bettencourt tentará colocar a bandeira dos Açores no Monte Kosciuszko que se eleva a 2228 metros, sendo o pico mais alto da Austrália".

É claro que ao ver isto pensei que era uma gralha. Deveriam ser uns 4228 ou algo do género. Mas não, são mesmo 2228!!!

Iremos agora, tentar perceber toda a magnificiência da notícia.

Em primeiro lugar analisaremos o porquê de ser somente uma tentativa e não um facto certo. Que poderá correr mal nesta "expedição"?

- Poderá perder-se em Londres e perder o avião para a Austrália.
- O serviço de quartos do hotel da estância de esqui poderá confundir a hora de despertar e acordá-lo tarde de mais.
- O autocarro que o leva até ao trilho de passeio até ao cume poderá ter um furo.
- O teleférico poderá encravar com o peso de alguns americanos que também estejam por lá.
- Ao chegar ao cume constatará que se esqueceu da bandeira nos Açores, sendo obrigado a apanhar mais alguns autocarros e aviões para realizar o feito!

Já agora, este monte nem é o maior da Austrália, é o maior da Austrália continental. É como se dissessemos que a Serra da Estrela é a maior serra Portuguesa. Acho que, como açoriano, o jornalista, para não falar do alpinista, deve saber bem que um país é o conjunto do seu continente juntamente com as suas regiões insulares.

Mas que percebo eu de alpinismo se até tenho vertigens? Ainda desmaiava no teleférico com a bandeira no bolso!!!

Notícias chocantes

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O dia que se adivinhava tranquilo aqui no Des-terro Holandês foi sacudido por um chorrilho de notícias chocantes da província Latina: 1) João Paulo II mortificava-se (ou autoflagelava-se) com recurso a dispositivos vários; 2) Casamento cigano acaba com tiros; 3) Uma lancha da Armada abriu fogo de metralhadora contra embarcação descaracterizada da Polícia Marítima na costa Algarvia.

Todos os emocionantes relatos podem ser encontrados no Expresso, prosseguindo a sua senda na conquista do título "Não sabemos se aconteceu mas estivemos lá!", e consequente destronamento do hegemónico Correio da Manhã - confirmada, é certo, a (todavia injusta) descredibilização generalizada de  O Crime.

A parte chocante das notícias, obviamente, advém da surpresa que resulta da sua leitura, o que significa que há algo de inesperado e até imprevisto que nos faz, neste caso, ficar chocados - ou indispostos, de tanto rir. De facto,

1) Não se compreende que, após tanto tempo, não haja ainda uma distinção objectiva, realista e abrangente entre as práticas de mortificação e auto-flagelação no seio da Igreja Católica. Assim não pode ser! Nunca sabemos se, por exemplo, vendo a RTP, TVI ou SIC estamos a incorrer numa das práticas, em ambas, ou estamos apenas a perder tempo na nossa caminhada para a Santidade - quiçá, até adicionando pontos negativos ao nosso saldo Celeste, pela pecaminosidade imanente das meninas desnudas, por exemplo, nos momentos culturais dos programas da tarde.

2) A tradição já não é o que era: haver tiros num casamento cigano não só é normal, como parte indispensável da festa! O que não se compreende é que, efectivamente, isso tenha sido usado por pessoas de má fé para acabar com a celebração - ainda por cima, numa faustosa mega-operação que deve ter custado os olhos da cara ao erário público! Então as pessoas não podem casar-se como, quando e com quem querem? Já não basta ter-se alargado a definição de casamento a práticas pouco ortodoxas? Onde é que isto vai parar? Qualquer dia, alguém pensa em fazer uma festa numa quinta solarenga para os lados, vá, de Aljustrel, e... pronto, é isso.

3) Lamentáveis, por um lado, a falta de capacidade ao nível da caracterização na Polícia Marítima - os senhores têm de perceber que os tempos mudaram e bigodes farfalhudos já não enganam ninguém; nem uma peruca na lancha, um rimel, nada? Por outro, se nem com metralhadora os nossos marinheiros acertam numa lancha deixando-a, no mínimo, semelhante a um passador de esparguete, a coisa vai mesmo mal!

Todavia, o Des-terrados teve acesso exclusivo à "caixa negra" da lancha, mas a sua exploração terá de aguardar um próximo post: agora temos de ir fazer a Via Ápia de joelhos, de costas e ao pé coxinho, porque o visionamento das meninas desnudas das vitrines não abona a favor do nosso saldo celeste - e o chicote ficou em casa da namorada!

Somos os primeiros da 2ª série de 20!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Fico deveras surpreendido com a surpresa que tem gerado o anúncio de que Portugal é o vigésimo primeiro melhor país do mundo para se viver, o que nos eleva instantaneamente ao título de melhores da segunda série de vinte. Não parecendo à primeira vista grande coisa, constatamos à segunda que até pode ser. É que, sinceramente, se fosse na Eurovisão ou no Campeonato do Mundo de Futebol pronto, tudo bem, já estamos habituados e não haveria assim grandes razões  para surpresas - mas aqui estávamos a contar com algo bem melhor, pelo menos, vá, algures entre uma das primeiras seis séries de três, ou entre umas das primeiras duas séries de nove!

Gerindo a tristeza, além da surpresa, quisemos saber mais. Mas só um bocadinho mais, que o saber, ao contrário do que se pensa, ocupa lugar. Esse estudo, baseado essencialmente nos sempre fidedignos dados governamentais, permite-nos então observar que (numa escala de 0-100 pontos possíveis):

- empatamos com a França, Samoa, Ruanda ou Etiópia no custo de vida (55), cilindrando a Itália ou os USA (56), mas perdendo para o Congo ou Sudão por escassos 2 pontos (53), países em que se pode, portanto, ter mais facilmente uma vida honrada se se for trabalhador e limpinho. Ou ambas. Nesta escala o Iraque ocupa o honroso e destacadíssimo primeiro lugar a contar do fim, com 100 pontos, e a Suécia, imbatível, com 0 pontos! - eu bem sabia que havia uma boa razão para os suecos passarem tantas férias nos Açores: é que lá, na terra deles, não tem piada fazer compras, com aqueles preços ridículos!

- a nível de liberdade, aí sim, partilhamos o pódio (nota máxima) com outros países cujo historial democrático é indiscutível, entre eles os inconparáveis Chile ou Uruguai, que assim silenciam as vozes discordantes, e ficando à frente dos modestos mas promissores USA ou o Mónaco, que têm ainda um longo caminho a percorrer no tocante a democracia e essas coisas.

- ombreamos também com os USA e Irlanda a nível de segurança, nota máxima. Países seguros, apesar da ameaça terrorista que pesa sobre as pontes de Lisboa; convém porém ter cuidado: ao viajar na RyanAir, o preço que pedem pela bagagem de porão é um autêntico roubo; não fazer Amesterdão - Detroit em companhia de individuos de que não comam carne de porco.
Evitar Iraque, Irão, Haiti ou Libéria - diz que a coisa por lá não está famosa

Para terminar, não porque seja necessário mas porque tem de ser, falemos de cultura e leisure, que é assim um misto de não fazer pívia com "não mãe, só mais um bocadinho que está tanto frio" (política também consta no dicionário como sinónimo):

- Aí, irmanados com o irritante Uruguai (72 pontos), damos uma boa lição à Holanda (71) e Espanha, humilhada nos 68 pontos (ficam francamente aquém das expectativas mas pronto, quem os mandar insistir na monarquia?) e seguimos em perseguição à Namíbia (75), Coreia do Sul (82) ou Moldávia (86), concorrentes cuja cultura florescente nos faz equacionar seriamente se será boa ideia deixar algo tão importante na mão de músicos.

Após aturada reflexão nos 20 segundos que durou a degustação de uma enriquecedora sande de queijo e fiambre, percebemos então a surpresa, partilhada com muitos apêndices anatómicos, que se generaliza nas hóstias populares: pensam que vão ser chupadas e são trincadas! E só esta indignação, profundamente alicerçada em questões de qualidade de vida, suplanta a de termos sido suplantados por 20 países no ranking!

Temos uma democracia que asfixia; autarquias em latência / presídios em potência  - os milenarmente chamados, a partir de agora, Gulags das ovas de esturjão; colónias em diversos países - Luxemburgo, Canadá, França, onde asseguramos parte significativa dos quadros executivos da enxada e do martelo e condições únicas para a importação e usufruto de mercadorias essenciais de luxo - nomeadamente, altas e loiras do Leste ou mais roliças do Nordeste.

Epá, não me digam que não merecíamos, ao menos, vá... um lugarinho entre uma das primeiras quatro séries de cinco?

P.S. A International Living é especializada em condições de vida para reformados em países estrangeiros - ou seja: "se tens uma reforma típica da classe média do teu país, anda connosco! Temos para ti uma lista de países verdadeiramente pobres onde podes viver como se fosses menos pobre!". Ah, Tugalândia: grande país para se viver... se não fores Português, claro! Nem imigrante Africano, claro! Nem Brasileiro! Nem... pronto, já chega.

Consciência ecológica ou Adeus, ò vai-te embora

sábado, 16 de janeiro de 2010

Constou-me que os Delfins andaram a fazer uma tournée de despedida que incluiu, imagine-se bem, uma vinda aos Açores para se despedirem dos fãs deles cá (todos os 2).

Eu cá não vi nenhuma das despedidas, pois os meus pais sempre me ensinaram que não devia ir a sítios mal frequentados, pois o risco de contrairmos algo de mau é elevado, seja doença ou um arraial de porrada.

Mas então os Delfins vieram aos Açores para isso? Mas será que as criaturas nunca ouviram falar da pegada ecológica? Se era somente para se despedirem, um postalinho electrónico chegava e sempre se dispensava a poluição gasosa e sonora do avião. Sim, pois da poluição sonora do concerto já nem se fala!

Sinceramente, não havia necessidade...

A ortodoxia da perfeição

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Há momentos em que nos deparamos com interrogações e contradições que fazem perigar a nossa concepção do real, abalando os pilares que sustentam a própria existência. Um deles é quando, tardiamente, nos apercebemos de que o papel higiénico acabou, e que lá fora, no mundo real, nos espera o vazio - ou, como opção, uma casa cheia de convidados, nomeadamente os pais da nossa namorada. Ai, sabendo que não há retorno, evitamos a humilhação de um apelo verbal, alto e bom som, sacrificando algo que nos é muito próximo: os boxers ainda limpos, da semana passada. Nos casos extremos em que os mesmos, por razões de força maior, estão ausentes, estamos condenados às chamas da eterna danação familiar.

Um dos outros momentos, voltando às grandes questões do nosso tempo, é sermos postos perante a falibilidade da nossa ortodoxia cultural - quando passamos a vida inteira a construir uma sólida rede de convicções pelas quais nos guiamos para, um dia, constatarmos a sua fragilidade.

E foi isso que me aconteceu hoje, numa fria tarde de Janeiro: dei por mim, imbuído de toda a inocência, a comprar... feijão verde para o jantar!

Eu percebo que, à primeira vista e, até para alguns, à segunda, a questão pareça de somenos relevância, mas esse é o busílis da coisa. Passei a vida a incluir feijão verde no GCAR - Grupo de Coisas Altamente Repudiáveis. Nele incluo também, por exemplo, certas práticas satânicas, lavar o carro (sobretudo ao Domingo) ou assistir ao programa "Ecclesia", que é uma versão moderna do "70x7", cujos traumas infligidos em criança a terapia semanal ainda não me permitiu ultrapasssar na totalidade.

A verdade então é que descobri recentemente que feijão verde era tragável, se conseguirmos misturá-lo com tantas coisas que o seu sabor desapareça. Aí percebi que a culpa era, em parte, da tradição de comê-lo cozido, na melhor das hipóteses, com o detestável "fio de azeite" - as idiossincracias da Portugalidade, no formato terapia de choque familiar.

Abeirando os 32 anos, renego a uma verdade que, sendo minha, era também universal: feijão verde é inadequado para consumo humano! É nestas alturas que verificamos a grandeza do infinito na nossa pequenez - que é o mesmo que dizer "mão-de-vaca, mioleira ou cozinhados do Goucha é que nunca!".

"Comprar feijão verde não é coisa de gajo solteiro que se preze", pensava eu ao constatar os olhares de desilusão das moças que compartilhavam da fila de espera comigo.

Pois. Ninguém é perfeito.