Encontrar quarto em Amesterdão só é ultrapassado em dificuldade por encontrar uma virgem no Red Light - embora estas saiam mais em conta. Por isso, quando há três semanas o Armand, jovem jurista descendente das melhores famílias do Suriname me disse no seu Inglês macarrónico "Ok,the room is yours, I have a good feeling about you!", escusado será dizer que rejubilei de felicidade e me enfrasquei em cogumelos mágicos (por acaso não, mas parecia!).
Como o quarto é numa zona nova da cidade, numa bonita ilha perfeitamente natural feita há cerca de dois anos chamada Ijburg, tive de aguardar umas duas semanas para fazer a mudança. De momento, estou em Almere, a 40 min. de Amesterdão, morando com o Yon, um Holandês-Asiático fascinado por Salsa, por Zouk e, como as desgraças nunca vêm sós, por comprar coisas via internet de que não precisa mas "It was really cheap!". O inconveniente, além do tempo perdido em viagem, é o preço dos transportes, que ronda os €16 por cada ida a Amesterdão.
Estava eu muito feliz da vida, apesar de ponderar já com alguma seriedade o aluguer de uma vitrine no Red Light para fazer face aos €450 de renda mensais do quarto do Armand, quando me constou que havia um OUTRO quarto, por €375, e que tinha de ligar a um tal de Emmanuel, assim e coiso e tal.
Lá mandei sms, esperei, falei com o homem, combinei hora, apanhei o eléctrico, passei toda a cidade até chegar a Slootervaart, na zona Oeste, liguei de novo e esperei já na paragem indicada. 20 min. de viagem: longíssimo! Pelo menos 15 min. de bicicleta - intolerável... ah, que saudades do Metro de Sete Rios, e da paragem de Sta. Cruz - Damaia, venturosa e muito mais colorida culturalmente! Um gajo vê-se assim, sozinho, numa zona plena de requinte suburbano Holandês e até se sente intimidado, e começa a reflectir sobre questões de alguma profundidade... por que raio ninguém tem marquises de alumínio?
Quando o tal de Emmanuel chegou, lá fomos, "hello" p'ra cá e p'ra lá, rent p'ra cima, room p'ra baixo... Dali a bocado, pergunta ele "Where are you from?" - pergunta fatídica, porque na verdade ninguém é de Amesterdão, a que respondi, com a timidez natural do imigrante do Terceiro Mundo "Oh... Portugal" (fico sempre na dúvida se sabem sequer onde isso fica). Curiosamente, sabia:
- Epá, és Português? C'um caneco, pá - estou cá há doze anos! Dá cá um bacalhau!
TUGA RULES, pá!
E pronto - afinal chamava-se Emanuel, o que é muito menos requintado - mesmo à Tuga! vejam lá se o Emanuel Nunes, quando passou a viver em Paris, não ficou logo Emmanuel (claro que depois saíu o filme, mas aí já nada havia a fazer- qualquer coincidência entre o erotismo e sensualidade de ambos é pura ficção!).
O quarto era impecável e €75 mais barato - mas não conheço o verdadeiro dono, o Emanuel está de saída. Arrisco, deixo o Armand agarrado e poupo umas massas? Ou vou-me entalar?
Humm... decisions, decisions... decisões, pá!
C'um caneco!
Where are you from?
terça-feira, 30 de setembro de 2008
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Viagem ao outroladodomundistão
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Male – W resort, Ilha de Fesdu
Chamo o táxi do hotel, o qual chega rapidamente. É o típico taxista da noite, a ouvir música no carro. Quando eu entro, diz que vai mudar o cd para algo que é igualmente bom...que eu vou gostar. E sai uma rockalhada americana às 4 e meia da manhã para arregalar a pestana. A viagem dura exactamente a duração da música, pelo que a coisa sai barata e pouco dolorosa.
Chego ao cais às 04h40 e dou as bagagens ao...ao...sinceramente, nem sei como lhe chamar. A ver se vos consigo explicar o aspecto da coisa. Dentro do barco está um indivíduo a dormir e 3 ensonados. Sou o único ocidental. Ando pelo barco procurando coisa alguma quando vejo mais um a dormir no escuro...mal dava por ele. De repente, o dito tripulante, vá, dá uma palmada no tipo que está a dormir, vai para a popa, dá à manivela e o motor a gasóleo pega (nunca vi nenhum motor a gasóleo pegar à manivela até hoje). Num ápice, o indivíduo que dormia levanta-se e vai para os comandos! Digamos que já vi manobras de desatracagem melhores. Entretanto, viajamos sem luzes e eu pergunto-me se conseguiria ver os coletes de salvamento no meio do bréu. Como que respondendo à minha pergunta, o “tripulante” acende as luzes da zona dos passageiros, deixando-me mais descansado. Puro engano...vinha cobrar a tarifa de passagem (20 rufias...de dia é metade) e às escuras não conseguia. Posto isto, volta para a popa, desliga as luzes da proa e acende uma fluorescente à popa. Bem visto, penso eu...uma luz chega bem para se ver o barco. Puro engano de novo...era para contar o total e guardar no local próprio! A viagem continua na escuridão e termina....como sempre na vida daqueles dois indivíduos...termina mal começou...reflicto nisto e sigo.
Dirijo-me ao aeroporto que está pululante de vida às 5 da manhã. Aparentemente, choveram coreanos, pois estão por todo o lado! Dirijo-me ao balcão, digo quem sou e para onde vou, não apresento rigorosamente documento algum e no sistema aparece “Paolo”...pesam as bagagens e emitem-me um voucher para apanhar o autocarro que me leva ao hidroterminal. Aqui nada se faz duma vez, dá-se um bilhete que dá acesso a outro bilhete que dará acesso a outro que finalmente dá qualquer coisa. É um sistema que garante a empregabilidade de milhares, é um facto. Parece a nossa função pública, mas menos corporativista...aqui dá para todos. No autocarro entra um tipo de 50 anos com um par de barbatanas debaixo do braço, vestido à piloto. É uma imagem caricata. Diz para outro também vestido à piloto: trouxe estas barbatanas caso a amaragem corra mal...é equipamento de sobrevivência...e desata-se a rir. Ora cá está o que eu chamo de um momento de humor brilhante. Gostaria de ter visto a cara do pessoal no autocarro, mas não consegui, pois continuava escuríssimo....bolas!
Chego ao hidroterminal e após pagar mais 10 dólares não sei para quê, dão-me o bilhete. Eles estão lá fora, os hidroaviões...bom aspecto, sim senhor. Espero pela hora de embarque que só atrasa 10 minutos e lá entro eu num bimotor com capacidade para 14 passageiros. Éramos 13, 6 casais e eu. O destino é o meu resort, ou seja, isto é um ninho de pombos...são mais as luas-de-mel que as férias normais. Estou num paraíso rodeado de amor...que bonito!!! Sento-me no primeiro lugar onde estou praticamente em cima dos pilotos ao ponto de conseguir ler a instrumentação. O piloto liga o motor direito e acelera...de repente o co-piloto abre a janela e
Tudo a funcionar, saímos do cais, fazemo-nos à “pista” e aceleramos...em 3 tempos estamos no ar. Viajamos a uma altitude de cruzeiro de 450m e a uma velocidade de 150 nós (mais ou menos 230 km/h). Vamos a 8500 rotações, a pressão do óleo é de bla, bla, bla...isto assim é giro :D A viagem demora 25min...amaramos...
sensação engraçada...e depois esperamos outros 25min, pois está outro avião da mesma companhia a desembarcar pessoal no resort....grande coordenação!!!
Saio finalmente do avião...ups...aeronave e piso o resort. Sou recebido pela directora que me diz: “welcome to paradise”. Começa esta etapa de vida!
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Em Male, parte 3
domingo, 28 de setembro de 2008
Male, parte 3
A tarde passa lentamente. Aproveito para assistir ao grande prémio de Fórmula 1 de Singapura, o primeiro disputado à noite...foi bastante emotivo, pelo que o tempo sempre passou mais depressa. Ansiando por ter net e publicar as crónicas, vou ao “business centre” do hotel no primeiro andar. Basicamente são 3 salas de reuniões com pcs. Dizem-me que posso sentar-me no hall com o portátil e ligar-me à net. Tento faze-lo, mas não consigo, pois o portátil não consegue detectar redes. Depois de meia-hora de espera pelo técnico do hotel, ele consegue solucionar o problema que estava na configuração do meu pc, apesar disto estar em Português. Confesso que foi bastante simpático e prestável, mas sempre mantendo um distanciamento estranho, que não se percebe se é por falta de confiança, se por ser assim mesmo, mas o que importa é que “funcionou”. Descubro que o Benfica ganhou ao Sporting limpinho e sem espinhas (o leitão este ano é nosso!), posto as crónicas e pondero se deverei ir dar uma volta pela cidade (isto é mais ou menos quadrado e tem 2km de lado), mas decido ficar pelo hotel à espera da chamada do Aslaam para me informar da hora de partida do hidroavião na manhã seguinte.
Como seria de esperar, o tempo passa, o escritório fecha e nada de Aslaam. Mentalizado para ficar cá mais tempo ainda do que esperado, vou jantar (comer é sempre animador), altura durante a qual aparece o Aslaam na recepção. Estou a meio da minha galinha assada com molho de churrasco, arroz estufado e salada (tudo o resto ou não tinha carne ou tinha caril...mais um peixe barbaramente assassinado num assado), quando ele me dá a notícia de que o hidroavião parte às 6, pelo que tenho de apanhar o barco das 5 para o aeroporto, o que me obriga a levantar às 4. Decididamente, nunca mais organizo os meus sonos e o meu estômago! Mas o melhor ainda estava para vir: a empresa vai dar-me um cartão de telemóvel, mas como não trouxe o meu telemóvel, tenho de comprar um. O Aslaam não me pode acompanhar, pois tem de ir buscar a base leader ao aeroporto, pelo que decido ir à baixa fazer “compras”.
São agora 21h00 e percebo que estes horários aqui são deveras estranhos. Não sei se é por ser Ramadão, mas às nove da noite é o caos na baixa, com mais gente agora do que de dia, a maioria nas suas motos, claro. As lojas fecham às 23h00 e o frenesim é enorme. Ainda não tinha contado, mas aqui a mania do telemóvel consegue ser quase pior do que em Portugal. São lojas de telemóveis a seguir umas às outras e todas cheias de gente. Compro o telemóvel mais barato que encontro, um Nokia 1200 desbloqueado por 20€...com factura e tudo legal, sim. Acho que vou começar a exportar telemóveis! Existem os modelos mais recentes e evoluídos a preços realmente altos, pelo menos para o nível de vida dum maldivano, mas é o preço da “modernidade”. Afinal de contas, onde podem eles gastar o dinheiro aqui? Aproveito para comprar champô e sabonetes, pois não sei a que preços serão no resort e aqui são a preços aceitáveis. É curioso verificar que os maldivanos misturam o inglês com a língua deles, especialmente quando se fala de tecnologias. Suponho que seja por não terem esses termos na sua língua e adaptarem o inglês...mas dito com a sua pronúncia...engraçado.
Volto ao hotel, aviso mais uma vez na recepção a importância de ser acordado às 4, pago a conta (15€ por uma chamada de 2min para telemóvel em Portugal é um roubo; fico com vontade de ir ao buffet lá acima comer mais 3 pratos principais) e subo para o quarto. Deito-me às 22h30 para acordar à 1h15. Ligo a t.v. e volto a desliga-la às 02h15. Rebolo na cama, mas é escusado. Entre a troca de horários e o receio de não ser acordado, não consigo adormecer (para os que estão a pensar que poderia ter programado o telemóvel novo para despertar, relembro que sem cartão não liga). São agora 3 da manhã e decidi não tentar dormir, pois se a chamada de despertar falha, então tenho de cá ficar mais um dia e não me apetece nadinha. Faltam 3 horas para descolar num hidroavião à noite (ou será que às 6 aqui já se vê qualquer coisa?), isto caso o horário seja cumprido (piada de rebolar no chão a rir, só para o caso de ainda não terem percebido o espírito da coisa), pelo que mais uma aventura...perdão...duas...chegar ao balcão do Air Dixie Charter no aeroporto deverá ser outra, se afiguram.
Até Fesdu!
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Male, dia 2
A noite foi comprida. Insisti em não ligar o ar condicionado do quarto e paguei por isso. Sem ventoinha (ligada faz barulho) e com tudo fechado por causa do barulho das motas e carros que passam e apitam a toda a hora (apesar de estar no sétimo andar), a noite foi quente e transpirante. Deitei-me às 20h00, tendo acordado não sei quantas vezes (à 01h30 ainda liguei a tv).
Acordei às 09h00, olhei para o relógio e reparei que a chamada de despertar que tinha pedido para as 07h30 tinha funcionado tão bem como o serviço wireless, ou seja, nada. Tendo combinado com o Aslaam (peço desculpa se estiver mal escrito) às 09h00 na recepção para irmos assinar o contrato e fazermos os exames médicos, vesti-me (felizmente tinha feito a barba ontem :P) e fui para a recepção, só para constatar que eram 09h10 e ele ainda não tinha chegado.
Pois bem, em Roma, sê romano, de modo que fui para o 9º andar tomar o pequeno-almoço nas calmas. É claro que assarapantado de sono como estava, não cometi a proeza de ficar na varanda à beira-precipício, pelo que fiquei no interior. Para o pequeno-almoço existia noodles, peixe feito dum modo que lhe deviam pedir desculpa e um pretenso pequeno-almoço ocidental onde não há porco (acho que vou começar a sonhar com entrecosto, costeletas e fiambre). Havia salsichas de galinha, bacon de vaca :s, fiambre de algo que não porco...mas nada de gordurinhas das boas. Ainda corro o risco de perder a barriga lusitana que me acompanha!!!
Entretanto chega o Aslaam à recepção, digo-lhe para subir, voltamos ao meu quarto para apanhar a papelada e lá vamos nós...na mota dele...sem capacete...e a furar por todos os lados. Quem diz que estar em trânsito não é giro? Experiências novas, fazer amigos, enfim...a loucura!
Vamos até à sede da agência de emprego, onde me informam que o tipo que me vai levar aos exames médicos está atrasado...não se sabe quanto, pois não atende o telemóvel (como devem calcular, por esta altura, fiquei muito surpreendido por algo não funcionar aqui), pelo que voltam a ligar ao escritório para o Aslaam me vir buscar.
Vamos para o escritório da Silver Sands, meu contratante, leio e assino o contrato de trabalho (ena...fiquei a saber que mesmo que não tenham clientes alguns, pagam-me sempre o dobro do ordenado base...a não ser que um tsunami leve o resort todo...mas também nesse caso, não creio que o ordenado me sirva de muito!) e abri uma conta no State Bank of Índia. Fantástico! Entretanto ligam da agência de emprego...supostamente chegou quem faltava, vamos de novo (não sei se já perceberam que sempre que me desloco é de pendura sem capacete numa moto pelo meio de carros e pessoas) e sou apresentado ao não sei quantos. Imaginem um tipo com 1,60 (contando salto dos sapatos), com 40kg, meio vesgueta e com um ar pintas, com camisa de colarinhos para o lado relativamente compridos. Deve ser um tipo “in” aqui no burgo. Ah...ainda não disse, mas os maldivanos são muitíssimo parecidos com os indianos em termos de tom de pele e feições.
Desta vez vamos a pé para o hospital privado cá do sítio, onde, em 20 minutos, um médico me tira a tensão (12,5-7,5...alguém sabe se isto é bom ou mau?), tiram um raio-x ao peito e fazem uma colheita sanguínea (limpinho...nem senti a agulha a entrar). Voltamos à agência de emprego, chamam o Aslaam e lá vou eu de novo ao escritório onde sou informado que não conseguiram viagem de hidroavião hoje para o resort (será que alguma coisa será a tempo e horas aqui?), pelo que terei de ficar mais um dia em Male. Porreiro pá! Estava mesmo a precisar de ficar mais um dia numa cidade sem uma biblioteca, sem um jardim, sem um museu, com ruas feias (ah...o Aslaam mostrou-me a loja representante da Sony...uuuuuu)...isto de irmos a falar na mota tem a sua piada...é como ele atender o telemóvel em andamento, falar, conduzir, desviar-se das pessoas e dos carros (ah...as motas, tal como os carros, são de mudanças automáticas)...tudo isto tem muita piada. Pode ser que depois de estar cá tempo suficiente, consiga achar piada...ou talvez não!
Agora terei de inventar o que fazer. Apesar de estarmos num dia de trabalho aqui, é domingo, pelo que terei de ver se consigo ver algum jogo da liga inglesa ou algo do gênero para me entreter. Deixo-vos com uma citação do Cousteau que consta dum panfleto da W (cadeia de hotéis e resorts donos do resort para onde vou): “O homem nasce com o peso da gravidade nos seus ombros. Carrega esse peso sobre a Terra, mas assim que submerge, é livre”. Nunca mais vejo a hora de o fazer!
Factos:
- A fanta de laranja não sabe a fanta e pouco sabe a laranja;
- Tudo o que não leve caril, não é comida;
- Dar bom dia, boa tarde ou dizer seja lá o que for ao cliente são termos desconhecidos, mas se fizermos um sorriso e cumprimentarmos, fazem um enorme sorriso de volta. Ainda não percebi se é por falarem mal inglês, se por serem olhados de cima para baixo pelos ocidentais (embora eles não saibam bem o que eu sou...perguntam sempre...ah...Portugal...aparentemente estão habituados a turistas lusos).
Ventura de Paulo Luís 1 comentários
Male, dia 1
Male, dia 1
Ah....um banho...coisa fantástica. Se não estivesse preguiçoso, ainda fazia a barba...pode ser que me apeteça daqui a bocado :D. O hotel, após uma viagem a uma espelunca (primeiro “hotel” onde me levaram) com direito a baratas mortas de pernas pro ar e um cheiro a mofo que dava cabo de qualquer um (suspeito que deu cabo da barata), é um bom hotel segundo os nossos padrões. Não volto a fazer check-in num hotel sem pedir para ver o quarto primeiro!!!
Chegada a hora do jantar, foi a vingança do chinês. Foi, a todos os níveis, um jantar vertiginoso. Em primeiro lugar foi-o literalmente, pois fica no nono andar e eu preferi ficar à varanda para evitar o ar condicionado. Basta dizer que se a faca me escorregasse, ainda fazia a barba a um tipo na rua! Para aumentar a vertigem da coisa, de repente começam as orações do ramadão amplificadas por um qualquer sistema sonoro duma mesquita. Voltem, sinos da igreja da Lagoa, estão perdoados. Mas enfim, por 15 dólares ataquei o buffet e depois de 4 pratos principais e uma frutinha, dei-me por satisfeito. Esta mania de cobrarem 10% de taxa de serviço sobre tudo é irritante. Especialmente porque quem me serviu no buffet fui eu!
Infelizmente, o servidor deles está com problemas e como é sábado e ainda por cima Ramadão, cheira-me que não postarei estas crónicas tão cedo. Vou deitar-me na cama que está com um aspecto fantástico ;)
Amanhã acabo as formalidades no escritório da empresa, faço exames médicos e vou finalmente para o resort conhecer o meu local de trabalho e os novos colegas. Estou curioso! Até lá!
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Doha-Male
Crónicas duma viagem ao "outroladodomundistão"
Doha-Male
Neste momento tenho 26 horas de viagem em cima com praticamente nenhum sono, pelo que esta última parte da crónica poderá, para além de não estar lá muito bem escrita, conter lapsos.
A estadia em Doha foi bastante interessante, como já vos contei. A ideia duma capela para orações rodeada de acrílico num aeroporto a parecer um aquário de fé é, para nós, estranha. Diferenças curiosas na maneira de estar destas culturas, onde se reza em todo o lado, enquanto. na nossa, é um acto mais privado e recolhido.
Chegada a altura de partir para Male, eis que me vejo a bordo doutro A330 (estou demasiado cansado para usar o termo aeronave), mas este mais antigo. Nada de mais, somente o telecomando do sistema vídeo individual era integrado no assento e não saía...maus hábitos :P
A meu lado veio um canadiano-italiano-espanhol-colombiano. Canadiano porque nasceu lá, italiano por parte da mãe, espanhol por parte do pai e colombiano porque casou com uma colombiana. Um verdadeiro cidadão do mundo! Viemos a falar em espanhol, mais para eu praticar que outra coisa. É vice-presidente duma companhia de hóteis e vem fechar negócio para comprar um e fazer outro. Vinha todo chateado, pois trocaram-lhe a reserva e teve de vir em turística. Para quem esteve em 14 países, desde a Guatelamala à Rússia, em 14 dias, compreende-se. Não lhe invejo a vida, por muito que ganhe. Nada paga este cansaço das viagens e do jet-lag.
Chegados às Maldivas, a coisa é gira. Para além duns portugueses que vinham fazer surf (cada um trazia 6 pranchas, o que me faz imaginar quanto teriam eles pago de excesso de peso), não há muito a contar. A pista fica numa ilha ao lado da capital e somos transferidos nuns barcos de madeira largos para caber pessoal e bagagem. Uma viagem de 15 minutos.
Chegamos a Male e, aqui sim, estou na Ásia. O taxista não fala inglês, está sempre a rir na conversa ao rádio do táxi, conduzem pela direita e as motas conduzem por todo o lado!!! Para ajudar à festa, o carro é de mudanças automáticas e não passamos dos 20-30 por causa das motos que vêem de todos os lados, e quando digo todos os lados, quero dizer todos os lados: da esquerda, da direita, de trás, de frente em contra-mão desviando-se no último instante. É um pagode...nunca mais falo mal dos taxistas de Lisboa :D
Neste momento espero o funcionário da empresa que me vem receber, depois da agência de emprego me ter ido receber e deixado no hotel. Nunca mais vejo a hora de tomar um banho e trocar de roupa!!!!
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Madrid-Doha, parte 2
Madrid – Doha, parte 2
Descrever a viagem entre Madrid e Doha não é fácil, mas tentarei resumir. Em primeiro lugar, vemo-nos numa mescla de culturas e gentes curiosa e agradável. Mas o que mais salientaria da viagem é mesmo a qualidade do serviço. Simpatia, eficiência, bom serviço (3 pratos à escolha em turística), monitores individuais com 40 filmes e 40 séries à escolha (nesta viagem vi o panda o kung-fu, asterix nos jogos olímpicos, bugs bunny...enfim...coisas para a minha faixa etária mental!). A ideia de dormir na viagem por ser nocturna (partida às 22h30 e chegada às 06h30) é que foi um fiasco. Dormitei 45min se tanto. Daí estar aqui no aeroporto de Doha em estado de zombie...e ainda me faltam 6 horas de vôo para Male!
Ao contrário do que esperava, não era o único Português no avião. Sabem como eu descobri? Elementar, meus caros. Eram os únicos com óculos escuros postos dentro do avião em conjunto com patilhas abaixo das orelhas...junte-se a t-shirt billabong para dar um ar radical e tá feito...o facto de falarem Português era acessório para a identificação. Reparo que evitamos entrar no espaço aéreo do Iraque e que aparece de vez em quando a posição e distância do avião em relação a Meca. Imaginem se pusessem isso nos aviões europeus em relação a Fàtima, Lourdes, Santiago de Compostela...enfim....a lista era infindável.
Posso dizer que embora nunca tenha estado tecnicamente no Qatar/Médio Oriente, vi o Qatar...a descida foi já feita de dia e deu para constatar o óbvio: o deserto está deserto à excepção duns oleodutos e duns postes eléctricos. Ressalvo o extremo ordenamento do território, puramente geométrico, típico de construções recentes feitas em terreno plano. Simples J.
Saio do avião, são 6 da manhã e está um bafo quente que não se pode. Mais uma constatação do óbvio, o deserto é quente. No aeroporto já se sente o contraste dum país muçulmano com traços ocidentais, ou seja, os aviões são modernos, mas os depósitos de combustível estão mesmo ao lado da pista, lá fora vão BMWs ao lado de autocarros do tempo de carqueja. Enfim, uma mistura engraçada. Existem mulheres de burca e mulheres vestidas de acordo com os nossos padrões. Ah...no avião avisaram que por ser ramadão, não se podia comer durante o dia...afinal no aeroporto pode-se...pelo menos na zona de transferências onde me encontro. Quase que me esquecia...se o condutor espanhol do autocarro era bom, este tentou ultrapassar o carro das bagagens numa curva, tendo encontrado outro autocarro de frente. Como o pessoal estava todo meio a dormir em pé, acho que poucos se aperceberam. Na casa de banho do aeroporto experimento um pouco de higiene local. O chão está sujo, a bancada dos lavatórios toda molhada, entra um funcionário de “limpeza” com um brize ambientador do ar e toca de soprar aquilo lá pra dentro...ficou muito melhor!!!.
Crio este parágrafo para falar duma sala para repouso/dormir que está colada a uma sala de reza. À entrada da sala de reza avisam que não se pode dormir lá dentro. Não vá o pessoal confundir-se.
Aqui são agora 7h06, 5h06 em Madrid de onde saí, 4h06 em Lisboa e 3h06 nos Açores. O meu cérebro e o meu estômago estão algures perdidos no caminho. Se alguém os vir, digam-lhes que estou quase a chegar, tá bem?
Até às Maldivas!
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Madrid-Doha, parte 1
Crónicas duma viagem ao “outroladodomundistão”
Madrid-Doha, parte 1
Finalmente encontrei o tal centro de negócios onde, pela módica quantia de 17,5€ pude disfrutar de 3 horas de internet e dum nestea de limão. E ainda dizem que viajar é caro. Foi uma pechincha. Meia hora na net custava 5€, por isso façam as contas...é só poupar! Hora de seguir viagem. Deixar o terminal 4, meter-me no autocarro adrenalínico para o terminal 1, levantar a bagagem da “consigna”, ir ao balcão da Qatar Airways e tratar do procedimento para ter direito a mais 10kg de bagagem por ser mergulhador.
Num puro pormenor de exercício estético, deixem-me que vos diga que as fardas das meninas da Qatar são giríssimas e têm uns chapéus imensamente finos. Dá gosto:). Abichanamentos estéticos à parte, dirijo-me ao balcão, conto que em Lisboa (via email), me tinham dito dos tais 10kg e oiço: pois não...Lisboa está a informar mal. Só tem direito aos 20kg, 25kg com cortesia. O resto terá de pagar. Ora cá está. Ainda bem que o pessoal mandou um email à Qatar em Lisboa. Aparentemente, não era o primeiro Português a ser mal informado. Grande consolo! A menina chama o supervisor e aí entra o típico espanhol supervisor...relativamente alto, barrigudo, com barba...e ar de mau ao ponto de fazer uma tortilla espalmar-se de medo! Não, que não tenho direito a nada disso. Resignado, dirijo-me ao check-in onde entrego a documentação, coloco a bagagem e a menina me diz: o senhor tem peso a mais. Confesso que não acho que tenha. Posso estar a ficar com uma barriguinha, vá, mas daí a ter peso a mais. Deduzindo que se referia à bagagem (isto de ter devorado Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle em adolescente valeu a pena), coloquei o meu ar de gato abandonado número 23 e contei a saga dos maus de Lisboa que me tinham enganado. Eu que só tinha 33kg (num máximo de 20). A senhora olhou para mim, perguntou que bagagem de mão eu levava, ao que respondi com o ar mais miserável possível: “só o computador”. Ela suspirou, teclou, emitiu-me o cartão de embarque e disse-me que eu tinha de ter mais cuidado. Agradeci com alívio, nem perguntando quanto se pagava por cada kg de bagagem extra Madrid-Doha-Male. Preferi ficar ignorante.
De momento, e após ter despachado uma baguete de presunto com queijo e uma salada de frutas, espero pela hora de embarque numa zona wi-fi para quem tem algo que aparentemente eu não tenho. Deve ser para gente feia :D
Veremos como corre a minha primeira incursão ao médio-oriente ;)
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I can only speak dutch
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Para se trabalhar na Holanda, tem de se ter o que antigamente se chamava SOFI number - o que, apesar de se não já chamar assim, ainda assim é chamado por toda a gente. Para se obter o dito, que é o correspondente Holandês de um número de contribuinte, tem de se informar o Governo de que estamos oficialmente a residir no país e contactar as Finanças. E foi com esse intuito, o de contactar as finanças, que me dirigi diligentemente para a zona de Harleem, na minha bicla recentemente adquirida no Vitor, um português cá residente há 11 anos, bem sucedido no negócio de biclas a estrear em 2ª mão.
Pedaladamente lá fui, sabia que tinha uns km pela frente - apenas não imaginava que eram 45 min. de km, em busca da Kingsfordweg... Quando encontrei a dita cuja, tinha que me dirigir ao nº 1 - isto tinha tudo sido planeado com muita antecedência. O problema é que me encontrava no nº 4256, numa rua que parecia ter pouco mais de 200m e apenas 4 ou 5 prédios... decidi ligar para o nº verde das ditas Finanças, tarefa que antes se tinha revelado ingrata pela minha incapacidade de atalhar adequadamente pelas opções descritas em Holandês.
Depois de carregar várias vezes em todos os botões do telemóvel, pleno de intencionalidade fortuita, atende-me um tipo com o seu holandês escorreito, ao qual disse:
- Hello, I'm at Kingsfordweg, but I can't find your office. Can you help me, please? - ao que ele respondeu com toda a calma,
- Sorry, I can't speak English - just Dutch!
Parei uma fracção de segundo e repeti:
- But I only need help finding your office - I'm already at Kingsfordweg...
- Sorry, I can only speak Dutch. You'll have to ask someone that speaks Dutch to dial the numbers and get in touch with us.
Era demasiado surreal:
- But you're speaking in English with me!! - respondi já irritado,
- No, I can only speak Dutch...
P.S. - Deixei Harleem duplamente frustrado e o pior ainda estava para vir - o eixo da bicla "nova" do Vitor partiu... e Amsterdão não tem descidas! E continuo sem saber o novo nome do SOFI number!!
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Lisboa-Madrid, parte 2
Lisboa-Madrid, Parte 2
Aterramos num descampado com alcatrão e vejo aviões da iberia por todo o lado...alguns da vueling e tal. E penso: ah...afinal isto não é assim tão grande...Alcochete Jamé será maior!
Puro engano...isto era o terminal 4, o novo terminal destinado aos voos de curta duração (55min de Lisboa para Madrid no nosso caso), mas a saga dos terminais ainda estava para chegar. Saio do avião, ando, ando, ando...e passados uns bons 500m, desço para a saída das bagagens. Sou o único no tapete...hum...estarei no sítio certo? Estou...diz Lisboa e tal. Bem...esperemos. De repente olho em frente e vejo um mupi com o seguinte cartaz: uma foto dum tipo com a frase “se maltratas uma mulher, deixas de ser um homem”. Que bonito...à chegada a Espanha, ficamos a saber que se batermos na nossa mulher, deixamos de ser homens. Se em Portugal fizessemos o mesmo, teríamos de colocar uma foto duma mulher com um olho inchado com a frase: “as mulheres são como os tapetes...temos de lhes bater de vez em quando para durarem mais”. E assim se vêem as diferenças culturais :D São engraçados estes espanhóis.
Entretanto chegaram pessoas....e espanhóis...as minhas malas são as últimas a sair...não há problema. Eu tenho muito tempo. Vou ao balcão de informações do turismo e pergunto onde é o balcão da Qatar Airways. É no terminal 1 (descubro nesse momento que estou no 4 ). "Tem de sair, apanhar o autobus e tal". Assim o faço..saio, vejo a versão madrilena dos taxistas de aeroporto (mais gordos e vermelhos, mas com o mesmo ar suspeito), entro no autobus e viajo cerca de 10 min por uma via rápida a alta velocidade. Volta motorista da carreira Odivelas-Pontinha de 1988...estás perdoado!
Paramos e eis que o nosso motorista diz no seu melhor espanhol a 90dB: “terminal dos y terminal tres”. Imensa gente sai, percebem que queriam o 1, mas como não falam espanhol, pensaram que o motorista estava chateado e desatara aos berros. Percebem o erro, voltam a entrar. Aparentemente é comum....o motorista reage como se fosse normal toda a gente sair e metade voltar a entrar. São engraçados estes espanhóis.
Andamos mais um bocado e chegamos ao terminal 1. Ao contrário do 4 que é moderno, este é mais “rústico”, digamos. Saio com as malas, o portátil (se isto é portátil, então as garrafas de mergulho também são...devem pesar o mesmo), encontro um carrinho e lá vou eu em demanda da QatarAirways pelo meio de gente em bichas para check-in. Vou até ao fim, volto para o meio, pergunto...ah...está fechado...só abre 3 horas antes do vôo. Ah, digo eu...e o depósito de bagagem? O depósito de bagagem fica fora do terminal...vai para o piso 0, atravessa a rua e é lá. Mal saio do aeroporto, deixa de haver indicações do “consigna”. Pergunto a uma orientadora de taxistas: “can you tell me where is the left luggage?”...faz cara de espanhola...recomeço: “estoy buscando el deposito de equipajes”...ah...la consigna...es del otro lado de la calle. Muchas gracias, digo eu. Atravesso a passadeira, pergunto à sra da limpeza que varre o chão e lá chego. Pago 7,5€ por deixar 2 malas lá por 4 horas e volto para o terminal 1. Telefones que aceitem visa esquece...compra lá um cartão da telefonica que te lixas. Com isto tudo, o estômago aperta...onde comer? Após seguir mais uma indicação útil e andar 2km, chego ao terminal 2. A única coisa que vi foi um café ordinário onde servem bocadillos...para passar fome, engolia ar! Volto às informações e pergunto por um macdonalds (sim, é mau, mas a comida espanhola de tapas e bocadillos é pior). Ah...isso é no terminal 4!!!
Inspiro, expiro e volto ao autobus onde apanho o mesmo condutor, faço de novo a viagem de 10min e chego ao terminal 4 - “terminal cuatro”, grita o condutor. Entro no dito cujo, verifico a completa ausência de placas, pergunto a mais uma informadeira e lá o encontro. Ah...como me soube bem o McPollo!!! Saio, pergunto onde é o ponto de internet. Pode parecer impossível, mas vi tipos ligados com o pc a uma tomada em pé a segurarem o portátil com a esquerda e a escreverem com a direita. Tentassem isso com este bicho e ganhariam uma tendinite ou algo do género em 5min...antes levantar pesos! Percorro o terminal 2x e nada de encontrar a tal “sala de negocios”. Vejo um tipo sentado num banco com o carregador a sair dum buraco no chão e tento imitá-lo. Na primeira tomada que encontrei, estava descarnada e por pouco ficava literalmente frito. Mudei-me...encontrei esta...serve perfeitamente para escrever estas linhas. Internet é que tá quieto...pode ser que a encontre...ou talvez não...mentalizo-me que tenho de voltar a andar no autobus com o Alonso da Carris cá do sítio. São quatro horas locais, o vôo para o Qatar é às 22h00. Creio que vou exercitar-me mais um pouco à procura da tal “sala de negócios” que ninguém sabe bem onde fica. Ah, como Kafka se sentiria em casa! São engraçados estes espanhóis.
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Lisboa-Madrid, parte 1
Crónicas duma viagem ao “outroladodomundistão”
Lisboa-Madrid, Parte 1
Encontro-me em trânsito (não se consegue usar este termo sem se pensar na Fátima Lopes e na sua tripa de precisão suiça..enfim!). Cá estou eu finalmente sentado e comido após ter chegado a Madrid há “somente” 3 horas!!!
Nunca mais digo mal da falta sinalização e organização lusitana. Isto sim, é do bom e do melhor...e ainda falo eu espanholês, senão...
Mas vamos por partes. Primeiro a partida: vôo atrasado meia hora sem que aviso algum houvesse, mas disto estamos nós habituados. Pergunto à Isabel (poderá ser outro nome...será Gracinha? bem...) que está nas informações e que me foi apresentada pela Gui: isto está atrasado não está? - No sistema diz que aterra às 09h25 e vem para esta manga. Olho para o relógio (09h35), olho para a manga atrás de nós, não vejo avião algum e encolho os ombros com aquele sorriso de quem acordou às 06h45 para ser feito esperar por espanhóis (ah...vim na Iberia...uma estreia pessoal).
Finalmente vê-se a aeronave (gosto usar este termo e raramente o faço....veremos se o consigo espetar aqui mais alguma vez!) a aterrar, chega à manga e saem espanhóis com pressa. Não sei se já alguma vez viram um grupo de espanhóis a saírem dum local fechado com pressa. Tem a sua piada. Digamos só que a parte mais agradável para a humanidade é o facto de não falarem uns com os outros a 90dB, pois não têm tempo.E isso todos agradecemos!
Num revirar de olhos, começam a chamar. Mas já limparam o avião? Já repuseram as refeições? Ah...pura ilusão a deste viajante. Mas quais refeições? Nem amendoins! Se quiseres comeres, pagas. O bilhete não foi caro, é um facto, mas da última vez que olhei, a Iberia não era low cost. E quanto à limpeza da aeronave (e vão duas), a revista da lux no chão no meu lugar falou por si (veio de Madrid a Lux em Português ou já tinha feito aquela viagem no chão antes? Se calhar já tinha cartão de passageiro frequente esta lux...fica a dúvida).
Felizmente tinha espaço para as pernas no A320 (lá perdi a oportunidade de dizer aeronave...) e ninguém ao lado. São engraçados estes espanhóis...de me pouparem a contágios.
Na Iberia, ao contrário de outras companhias, o prazer de entreter os passageiros ainda se nota, daí não terem instruções de segurança em vídeo, mas sim a hospedeira à maneira antiga a dizer que existem duas portas à frente, duas portas à rectaguarda e duas ventanas sobre as asas. Isto tudo com aquela cara de grande simpatia e nenhum frete depois de ter feito isto 13.578 vezes na vida.
Vamos descolar já depois deste 757 da US Airways, diz o comandante da aeronave em castelhano, (não era necessário dizer aeronave, mas apeteceu-me)...bem...ele disse mais algo parecido com: “despues deste siete-cinco-siete del lado derecho, somos nos otros”. Em inglês, para quem não percebe castelhano, (versão do comandante): “we gaassakncaspo next vcaasdcnsadda seven.five.seven dascadsc”. Sim, os nossos pilotos têm muito que aprender com o inglês dos pilotos espanhóis. Aliado à qualidade do sistema sonoro, torna completamente impossível para qualquer inglês perceber o que ele quer dizer. Os únicos que eventualmente perceberão são os espanhóis que também falam inglês daquele modo, mas esses já tinham tido a explicação em castelhano...ah...se calhar era para os que estavam distraídos quando foi em castelhano...tudo faz sentido agora. São engraçados estes espanhóis!
Descolamos, subimos em altitude e viramos para Castela...bonita a paisagem do estuário do Tejo...o céu está límpido e posso ver o rio e a zona ribeirinha ocidental e oriental. Despeço-me de Lisboa levando-a comigo.
À maneira antiga, passa a hospedeira com os jornais. Peço o El Mundo pensando que teria mais notícias do mundo que o El País. Mais uma vez, pura ilusão. Fiquei a conhecer com imenso pormenor a questão do acidente da spanair. Parece que os pertences dos desgraçados que bateram a bota ficaram 36 dias ao relento sem que os familiares tivessem acesso às coisas, tudo porque o juíz ainda não dera ordens para se limpar a zona. Não percebi bem o porquê da indignação. Os ex-putos do caso Casa Pia (hoje em dia avós) estão à espera há anos que um juíz mande limpar o lixo das nossas ruas e não fazem alarido! Estão preocupados que as coisas depois de ardidas e destruídas se constipem? Se fosse cá já tinham sido gamadas e/ou vendidas no ebay, mas pronto.
Estranhamente, não se fala em parte alguma do jornal do Cristiano Ronaldo (por oposição à Lux onde, em cada 3 páginas, 4 têm uma foto do rapazola), nem consta que alguma vez tenham estado a par do caso Esmeralda. Não sei como conseguem sobreviver estes periódicos espanhóis. Parece que estão mais preocupados com o facto do Zapatero ter dito que a culpa da crise era do Bush e das suas políticas económicas e dum casal de proxenetas nigeriano ter mandado assassinar o pai, na Nigéria, duma miúda que fugiu do esquema da prostituição à força, depois de pensar que vinha trabalhar legalmente para Espanha. De facto, este mundo está todo virado ao contrário...preocuparem-se com estas coisas quando o Cristiano Ronaldo marcou o seu primeiro golo depois da lesão...tss, tss, tss.
Entretanto, distribuem-me um inquérito da IATA a perguntar o que acho da Iberia, do serviço, daquilo, daqueloutro...preencho o que me apetece (sei lá eu como é a comida a bordo...vou pagar 5€ por uma sandes de queijo para responder ao questionário, não?). A senhora que se sentou dois lugares ao lado parece incomodada pelo facto de eu ter prestado pouca atenção ao questionário, toca-me (lá se foi o isolamento e o evitar do contágio) e diz-me que já estão a recolher os questionários. Ah, digo eu...gracias e tal. Faço mais umas cruzes e dou a coisa por encerrada. Pego na lux, fico a saber que não sei quem está grávida aos 45 anos e está a adorar e começamos a descida. Felizmente o comandante avisou-nos: “we are cascdad Madrid fsadfdsf degrees”. E pronto, fiquei a saber que íamos para Madrid (não fosse eu ter entrado no avião errado) e que estariam graus....alguns graus...muitos graus...enfim...graus! (continua)
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