Aqui estão mais algumas fotos do mergulho de Natal do pessoal. E sim, eu sei que o meu gorro era demasiado pequeno :P
Uma vaca japonesa com certeza
domingo, 21 de dezembro de 2008
Esta empresa, tal como todas as outras, tem o seu jantar de Natal, embora seja uma empresa de mergulho nas Maldivas e o ambiente lá fora seja pouco natalício. Pelo menos para nós que associamos Natal a frio e muito agasalho.
Conto-vos a história mais interessante da noite, pelo menos para mim. Tinha a meu lado a instrutora japonesa que tem por hábito comentar tudo e o que todos fazem, a qual não resistiu a fazer o seguinte comentário: “o teu bife não é nada saboroso”. Curioso sobre como poderia saber ela isso, perguntei como ela sabia, tendo obtido como resposta que ela já o tinha comido e não era assim tão saboroso. “No Japão”, prosseguiu ela, “existem vacas muito mais saborosas, pois têm massagens, bebem cerveja e ouvem Mozart”.
Começo a rir que nem um doido e o meu colega ucraniano pergunta porque me rio, pois ele não estava a ouvir a conversa. Ele fica muito espantado com a história e pergunta à japonesa: “mas todas as vacas são tratadas assim no Japão?”, ao que eu respondo antes que a japonesa o pudesse fazer: “Não, só as que fazem bons casamentos!”, afirmação que deixou toda a gente a rir menos a japonesa. Será que ela não fez um bom casamento???
P.S. Depois de toda a gente acabar de rir, veio-me à cabeça uma plantação de batatas em que as ditas tinham fones e ouviam Beethoven, mas guardei esta imagem para mim :D
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Calendário TPM laboral
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Trabalhar com várias pessoas está a revelar-se uma experiência fascinante a muitos níveis. Agora começo a perceber na pele a piada das séries como o “The Office” entre outras.
Eu já vi calendarizações de trabalho, calendários de aniversários, mapas de actividades e outras tentativas de potencializar as capacidades do pessoal e aumentar o espírito de equipa e o bom ambiente de trabalho.
Pois na sequência destas tentativas de melhoramento laboral, eis que proponho o calendário menstrual das funcionárias da empresa.
O mesmo deve estar afixado em local bem visível ainda antes da distribuição de serviço para a semana seguinte. E porquê? Mas vocês acham que se alguém souber que a chefa está com TPM vai parar no escritório? Só se não tiver amor à sanidade.
- O que já se tiver feito não estará bem feito certamente;
- O que ainda não se tiver feito já deveria estar feito há muito;
- O que se está a fazer não se deveria estar a fazer agora;
- E o que não se sabia que era para fazer, não é porque não faça parte das nossas competências, não, mas porque não somos trabalhadores de equipa, pois se o fossemos, não só saberíamos que era para fazer, como já o teríamos feito, pois os nossos colegas (todos eles sem excepção, mesmo aqueles que ainda não entraram para a empresa, nem irão entrar) fazem-no por nós.
E que dizer da nossa companheira de secção que, para além de ser insuportável nos dias normais, fica particularmente pormenorizada com questões de grande importância como a disposição correcta dos marcadores ou a sequência de tamanhos dos artigos nas gavetas da secretária comum, ou ainda, para gáudio dos maníacos do género, a grande questão sacramental de quem levou a caneta verde que estava em cima da secretária ainda há 3 dias ao lado do agrafador!!!
Seria uma ferramenta de trabalho de imenso valor para qualquer empresa, pois nesses dias de TPM os “inimigos”, perdão, colegas poderiam dedicar-se à manutenção do equipamento na cave ou a visitar clientes em Freixo-de-espada-à-cinta, localidade nunca devidamente reconhecida! Se calhar devia falar disto ao Sócrates para ajudar a combater a crise e tal. Que acham?
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O Pai Natal e o Sinterklaas
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Muitos acreditam, erradamente, que ele não existe, embora gostem na mesma de desembrulhar os seus presentes. Todos sabem que é auxiliado por duendes muito criativos e enérgicos, que o substituem nas difíceis tarefas que à sua provecta idade custam já a cumprir. Há também um trenó e uma rena de nariz vermelho - sim, que o Rudolfo dá no bagaço, toda a gente sabe também. E sim, tudo isto é alegre, tudo isto existe e não é fado: é o Pai Natal, que, chaminé adentro, deixa nos sapatinhos dos meninos a recompensa pelas suas boas acções (ou pela ausência de acções muito más, o que dá mais ou menos no mesmo).
Aqui nas partes baixas do Norte da Europa, onde me encontro, existe uma outra versão da história, quiçá mais realista - o Holandês é sincero, honesto. O nome do senhor dos presentes é Sinterklaas (o que se lê Sin-ter-klâââââsss - e ao pronunciar-se, deve-se projectar o queixo para a frente, para dar mais ênfase), e o seu modus vivendi apresenta algumas diferenças que passamos a resumir - além de comparecer a 5 e não a 24/25 de Dezembro.
Ora, o Sin-ter Klâââââsss (repito, para irem praticando, queixo para a fente, isso - vão ver que não dói nada!) premeia, como o seu congénere, os meninos que se portam bem com belas e coloridas prendas, sendo, porém, intolerante com os que se portam mal, enviando-os para o sítio onde se devem enviar todos os meninos que se portam mal: e agora toda a gente, como se sabe, pensa "O inferno?" (versão Dantesca) ou "O limbo?" (versão idiota) - e a resposta é, de facto, um misto: o Sin-ter-klâââââsss envia os meninos que se portam mal para... Espanha! Ah, pois é: menino, portaste-te mal, pumba!, vais para Espanha para aprenderes! Já as meninas, podem optar em ingressar numa promissora carreira no Red Light District, em alternativa. Aqui, claro que não podemos deixar de pensar: "Porra, até nisto somos ultrapassados pelos Espanhóis! Então não podíamos nós, perfeitamente, ser também o sítio para onde se mandam os meninos que se portam mal? Até temos a Casa Pia!". Sim, mas para isso, teríamos de vir no mapa - ah, pois é! - não se esqueçam disto do mapa.
Bom, outra diferença de destaque tem que ver com a mão-de-obra de todo o aparato natalício. Se o Pai Natal usa duendes, seres exóticos, caprichosos e, quiçá, mitológicos, já o Sin-ter-klâââââsss é mais prático e honesto - como se sabe, o Holandês preza a verdade. Assim, renegando à mitologia, recorre à história, e faz dos Zwarte Piet os seus ajudantes. Ai que giro, pode-se pensar, os Zw-Zw- Zwwart- coiso, que engraçado, e tal... pois sim! Os Zwarte Piet, seriam, numa versão Portuguesa de tradução livre, os Pedros Pretos:
aqui a desempenhar a sua função primordial,
ou seja, ir à frente na parte da chaminé! Atente-se na cara de felicidade do senhor, ao antecipar o cair em cima de um braseiro - é amor à profissão, só pode!
Apesar de honesto e directo, o Holandês tolera um certo eufemismo: justifica a cor dos senhores, não pelo facto de serem, de facto, mão de obra historica e socialmente barata, mas sim pela fuligem das chaminés! No fundo, são todos loiros de olho azul, apenas um pouco chamuscados e sujos...
Insinuações desprovidas de fundamento à parte, existem algumas diferenças mais, embora pouco relevantes - podem encontrar tudo sobre o assunto na Wikipédia, naturalmente. Na parte que me toca, e como já encarnei de Pai Natal diversas vezes, lá em casa, não posso lamentar a ausência de uns duendes...
E porque é Natal e ainda não nos recuperámos psicologicamente daquela infelicidade do mapa (ah, aposto que já se tinham esquecido!!) e do Inferno e tal, aqui vos deixo uma eventual explicação, em jeito de pérola, sobre o porquê de certos países não virem no mapa - ou certos mapa não existirem nos países... humm... é aqui.
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Feliz Natal Haleem
sábado, 6 de dezembro de 2008
Tarde demais, pois eram já 09h10 e a cantina fecha às 09h00. Plano B: Toblerone para o pequeno-almoço e de seguida ir dar a volta à ilha em Sea-Bob (ver post anterior). O sol estava forte e, como tal, a água reflectia o sol dando raios de cores espectaculares no azul do Atoll. Entre passeios demorados ao longo do recife de coral e “afundanços” vertiginosos a toda a velocidade, entretive-me durante mais de uma hora. Eis que volto ao centro de desportos aquáticos, onde encontro o Haleem, que mal me vê, diz: “Estou livre agora Paulo”.
O Haleem é um rapaz/homem muçulmano a quem o Natal nada diz. Duvido que saiba que o menino Jesus está nas palhinhas ou que saiba sequer que existe um presépio. Fez Biologia na escola e lembra-se bem da diferença entre peixes cartilagíneos (tubarões, raias e quimeras) e peixes ósseos (os outros) entre outras coisas de que já falámos em outras ocasiões. A vida, ou o facto de ter nascido nas Maldivas e ser pobre, não o deixou prosseguir os estudos, mas sempre que pode tenta aprender e fala comigo sobre o oceano. Perguntou-me há uns tempos se eu o podia levar a mergulhar, pois apesar de já ter montado e desmontado centenas de vezes equipamentos de mergulho para os hóspedes, ele nunca pode experimentar. Snorkelling ele faz muitas vezes como guia, mas mergulho nunca. Imagino como eu me sentiria se visse pessoas sem o mínimo jeito a fazerem algo que eu adoraria experimentar e nunca tivesse tido essa oportunidade pelo facto de ter nascido noutro meio.
O Haleem, apesar de inteligente e conhecedor, é tripulante básico da embarcação de mergulho e operacional do centro de desportos aquáticos. Trabalho simples, mas duro devido ao largo horário de trabalho, para o qual não são precisas aptidões intelectuais que ele tem.
Ofereci-me nessa conversa para o “baptizar” quando tivesse oportunidade, tendo essa oportunidade chegado. Fomos num instante pegar no equipamento e dirigimo-nos para a praia, onde saíam alguns clientes recém-baptizados por outro instrutor, neste caso o Vova. Expliquei-lhe o funcionamento do equipamento e eis que ele me pergunta se o ar que sai da garrafa vem frio. Reparo na altura que os olhos dele brilham como os de uma criança e que está ansioso por experimentar, não sabendo como se irá adaptar.
Começando o baptismo, é como se ele fizesse mergulho há muito tempo. As imensas horas de snorkelling ajudam, mas mais do que isso, é com naturalidade que ele me acompanha sem que eu precise de fazer rigorosamente nada. O mergulho voa no tempo e quando emergimos ele agradece-me com o maior sorriso do mundo. Ao caminharmos na praia de regresso ao centro de mergulho pergunta-me se pode continuar e fazer o curso completo. Digo-lhe que sim, desde que tenhamos tempo, indicando-lhe quais os próximos passos. Ao dizer isto os seus olhos brilham ainda mais intensamente que o sol forte sobre nós e penso que muito dificilmente teremos mais 5 ou 6 oportunidades destas em que o meu dia de folga coincida com umas horas livres dele, pelo que o seu sonho não deverá passar disso mesmo.
Sorrio de volta e agradeço-lhe silenciosamente por ter tornado o meu dia de folga num dia mais bonito e especial. Feliz Natal Haleem!
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Globalização de faca e garfo
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Comer na cantina do resort é uma experiência extraordinária. Não, meus caros, a comida não é excepcional, sendo excepcional para padrões de cantina eventualmente. É simplesmente comida, a maior parte dela ao gosto asiático, ou seja, ou demasiado picante, ou demasiado doce, ou tudo junto!
Comer na cantina é uma experiência extraordinária do ponto de vista cultural, pois às mesmas mesas juntam-se pessoas de todo o mundo, posso dizer. Da América à Europa Ocidental e Oriental, de todas as partes da Àsia....hum...acho que Africanos não temos. OK...é uma globalização em que África não conta. Mas também, mais uma menos uma...já estão habituados lá por aquelas bandas a não entrarem em contas algumas!
Imaginem agora que na mesma sala estão indianos, maldivanos, alemães, italianos, belgas, filipinos, singapureses, tailandeses, nepaleses, ucranianos, ingleses, aqui o vosso amigo, sri-lankenses (duvido que seja assim que se diga, mas pronto), mexicanos, sul-africanos (brancos da África do Sul não contam como representantes de África) e ainda outras nacionalidades que não me dei conta. Comemos na mesma sala, umas vezes com uns, outras com outros dependendo da disponibilidade de lugar.
A experiência começa por ser visual ao vermos que tipo de misturas as pessoas fazem. A comida está disponível separadamente, ou seja, molhos separados, farináceos separados, peixes separados, carnes separadas, vegetais separados, fruta separada e por aí fora.
Agora imaginem (acho que não conseguem) a quantidade de misturas diferentes e particularmente originais que se podem fazer.
Os indianos comem caril ao pequeno-almoço, o que só de ver me deixa a úlcera aos pulos, os maldivanos comem com a mão direita, ou seja, lavam bem as mãos com água quente (antes e depois), colocam arroz com carne ou peixe ou seja lá o que for, misturam e amassam tudo no prato com a mão direita e comem com a mão. A esquerda fica lavada e livre para o copo. Depois existem os que comem frango com colher e garfo (sim, eu vi que é possível), os que só usam um garfo e os que usando faca e garfo os usam de modo diferente (esquerda-direita). É claro que nem todos usam tabuleiros e muitos não usam guardanapos.
Confesso que ao início comer perto de certas pessoas me fazia confusão. Agora consegui deixar o preconceito de lado e sinto-me privilegiado por estar neste banho cultural que é comer aqui. As conversas são sobre tudo um pouco e sobre nada, pelo que certas refeições são mesmo prazeirosas. E assim me sinto completamente globalizado...de faca e garfo :D
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Adeus meu velho!
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Como falar do meu Tio Joaquim? Um poço de vivências? Um homem sempre bem disposto? Um trabalhador incansável para si e para os seus? Alguém que dava sempre sem nunca esperar nada?
Era tudo isso e muito mais. Desde pequeno que nas festas de família me habituei a ouvir sempre uma anedota ou uma história real (por vezes era difícil distinguir) a propósito de algo. Bastava alguém falar sobre um acontecimento que o Tio Joaquim dizia logo: “isso faz-me lembrar...”. E acabávamos todos a rir.
Pude trabalhar com ele durante 2 anos, ele no final da sua vida de trabalho e eu no início da minha. Com 65 anos carregava um móvel sozinho como se fosse de papel. O seu tamanho? Pouco mais de 1,60m.
Ouvir as histórias da sua vida de taxista em São Paulo na década de 50 e 60 era algo que me deliciava em criança. E até em adulto, quanto mais em criança.
Partilho convosco esta conversa com ele a propósito da vida de hoje em dia:
“Não percebo, dizia ele. As pessoas queixam-se que a gasolina está cara, mas contudo vão de carro para o trabalho e perdem mais de uma hora para lá chegar. Depois como não fazem nada o dia todo, vão para ginásios correr onde também têm de pagar. Eu trabalhava no Cais do Sodré e ia desde Odivelas a pé todos os dias. Duas horas para lá e duas horas para cá. Todos os dias, Verão ou Inverno, sol ou chuva. Acham que gastava dinheiro em gasolina ou em ginásios? Não que o tivesse, claro. E estava em forma que era um regalo! O tempo que demorava era praticamente o mesmo que hoje em dia somando o carro com o ginásio. Sinceramente, não percebo!”
Estas conversas com ele eram sempre fascinantes, fosse sobre alhos ou bogalhos. Lembro-me que, até nos velórios e nos funerais, era sempre ele que transformava aqueles momentos infinitos de dor e desconforto em momentos em que me sentia orgulhoso por fazer parte da minha família. Ele tinha sempre uma história ou um acontecimento sobre o morto que fazia todos rirem e sorrirem felizes por terem partilhado aqueles momentos com a pessoa a ser velada. Até na morte ele via razão para celebrar a vida.
Recordo com carinho quando o levei a comer um belo peixe em Porto Brandão há 2 anos. Sabia que a saúde dele não o deixaria estar entre nós durante muito tempo, pelo que foi a minha singela maneira de lhe dar um bocadinho de felicidade que nunca seria a mesma que ele me deu. Chegados lá, ele quis comer uma feijoada à brasileira, pois tinha saudades e por causa da diabetes nunca comia. Foi um almoço simples, de gente simples, mas que eu sabia que seria a última refeição que eu partilharia com ele naquele ambiente leve e de quem está de bem com a vida. Momentos que estão no meu coração como tantos outros.
Agora chegou a sua vez de partir e não estará ninguém para fazer rir a família e para relembrar que ele era o exemplo vivo de como a vida é algo de maravilhoso. Enfrentou mil adversidades, nunca deixou de ser pobre e humilde, mas era um poço de alegria e felicidade para todos aqueles que tiveram a felicidade de o conhecer. Um exemplo que espero nunca esquecer na minha vida.
Sempre que me lembrar de ti, Tio, fá-lo-ei com um sorriso que agora não consigo esboçar.
Adeus meu velho!
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Tragédia grega, acto III
Ao chegar aos 10m recomeça a hiperventilar e verifico que desta vez não a vou conseguir acalmar, pois ela começa a demonstrar sinais de pânico e diz que quer vir para a superfície. De imediato faço sinalética ao grupo para nos afastarmos do recife e iniciarmos a subida, pelo que a corrente nos começa a afastar. Agora pensam vocês...ah...grande coisa...tiveste uma cliente que hiperventilou e tiveste de vir para cima. Não meus caros, a coisa ainda fica melhor. Apesar da minha sinalética, o marido continua no recife a fazer fotografia agachado e eu não o posso ir buscar, pois se a largo, ela vai para cima que nem uma flecha. Vejo o marido cada vez mais longe, pois a corrente afasta-nos e penso: “fantástico...tenho agora uma pessoa quase em pânico, estou numa zona com corrente forte e vou perder um mergulhador”. E eis que o bom gigante me auxilia disparando contra a corrente em direcção ao marido (teve de nadar uns bons 25m contra a corrente) e, puxando-o por uma barbatana, diz que está na hora de acabar a sessão de fotografia.
Ao voltarem, estou eu a acabar o patamar de 3min aos 5m tendo de lançar a bóia de sinalização para a superfície com um carreto de modo a que o barco nos veja e nos recolha. Para os que fazem mergulho, sabem que é completamente impossível realizar esta operação com uma mão, pois a outra estava ocupada a agarrar a grega. Abro o bolso, tiro a bóia do bolso, desenrolo-a, mas agora precisava de engatar o mosquetão do carreto e, pela primeira vez na vida, invejei um polvo! Olho para o lado e o marido já lá está, pelo que de imediato levo a mão dela à do marido e espero que eles se entendam. Como não começaram à estalada, decido que posso mandar a bóia para cima e lá subimos devagar até à superfície, altura em que ela tira a máscara e começa a chorar desalmadamente, tendo o marido dito algo que me pareceu grego. Provavelmente era!
Digo “thank you” ao bom gigante sem soltar as palavras da boca, libertando um suspiro por ter sobrevivido à minha primeira discussão conjugal subaquática!
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Neve
domingo, 23 de novembro de 2008
Não estava nos planos para já (frase mais proferida por jovens casais!), mas agora que veio vamos aproveitar: é a neve, anunciando o Inverno frio do Norte Europeu...
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Tragédia grega, acto II
sábado, 22 de novembro de 2008
Decidi que ir ao naufrágio seria uma bela ideia, pois o bom gigante (ver acto I) já tinha dito que gostava de lá ir um dia.
Mais meia hora de caminho e estávamos lá, no Fesdhu Wreck. Para todos aqueles que não gastaram mil contos (na altura) por semana no britânico, é o naufrágio de Fesdhu :D
Chegados lá, faço a verificação da corrente, que constato existir, mas que é de nível aceitável. Dou indicação ao capitão para posicionar o barco no ponto que quero e saltamos para a água. Posto isto, começamos a descida e constato, que ao invés do que é normal, a corrente a 25m é mais forte que a corrente à superfície, mas estando lá em baixo tínhamos de lidar com ela, pelo que dirijo o grupo para bombordo do naufrágio para ficarmos abrigados da dita.
Enquanto lá estivemos a corrente foi cortada pelo naufrágio que servia de barreira, mas quando foi preciso dar a volta ao naufrágio, a corrente tornou-se mesmo forte, pelo que decidi deixar o naufragio e derivar para um recife por perto deixando-nos levar pela corrente. Deste modo, garantia um mergulho sem esforço, pois bastava controlar a posição vertical na água, sendo a corrente a nossa “barbatana-mor”.
Imaginem o meu espanto quando, ao chegar ao recife, já a 15m de profundidade (menos 10 que no naufrágio), a grega me agarra o braço, entrando em hiperventilação (respiração superficial e ofegante que não oxigena o sangue e dispara o consumo de ar da garrafa). De imediato, dou-lhe a mão agarrando-a e tento acalmá-la, pois se ela passasse dessa fase para o pânico, a coisa poderia tornar-se perigosa, pois tínhamos acabado de vir dos 25m. Entretanto chega o marido preocupado com ela, tendo ela tido uma reacção fabulosa para um casal em lua-de-mel. Começou a bater no marido (ou tentando), repudiando-o e, agarrando-me ainda com mais força, puxou-me para junto dela. Amigos: confesso que os meus anos de experiência em que já vi muita coisa e resolvi muitas situações não me prepararam para isto. Fiquei por uns instantes sem reacção, tal como o bom gigante, até que o marido decidiu deixar-nos e ir fazer umas fotos, pois é grande aficionado da fotografia subaquática.
Recuperado do espasmo cerebral que sofri durante a cena, consigo fazê-la parar de hiperventilar, pelo que continuo o mergulho para a zona mais rasa do recife (10m de profundidade), de modo a precaver situações reincidentes. Se bem o pensei, em boa hora o fiz!
(continua)
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Maalhos Thila
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Estas são as fotos tiradas por mim no segundo mergulho depois de Himendhoo (ver posts anteriores).
Espero que gostem :)
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Tragédia grega, acto I
Tragédia Grega
Acordei com a sensação de que seria um dia único. Sim, eu sei que todos os dias são únicos na medida em que nunca se repetem - para os carimbadores de papéis duma qualquer repartição pública posso garantir, apesar do que possam pensar, que isso é um facto para a maioria da população...os meus sentimentos Sras. e Srs. carimbadores – mas este tinha todo o ar de que seria mesmo único. E porquê? Porque mais uma vez ia a dois sítios lindíssimos verificar se as mantas já tinham chegado :D
À medida que chegávamos perto de Himendhoo, Nizar, o capitão de serviço avisa logo que temos corrente W para E, pelo que me preparo para a verificação de corrente. A verificação de corrente consta em saltar do barco só com máscara e barbatanas para ver se o recife está a “viajar” a grande velocidade e em que sentido, ou seja, escolhemos um ponto do recife e somos arrastados pela corrente só vendo o recife a “passar” lá em baixo. Ao melhor estilo “árvores a correr” quando andamos de combóio. Nesse dia era o único instrutor na água. Só para ficarem com uma ideia da força da corrente, ao entrar na água, as barbatanas foram logo arrastadas ao ponto de, quando a cabeça entrou, já as pernas iam de lado!!! Tento fixar um ponto no recife, mas era escusado, pois sou arrastado a uma velocidade tremenda para dentro do Atoll, pelo que mergulhar ali estava fora de questão. Pois bem, mudança de planos. Vamos mergulhar a um naufrágio dentro do Atoll onde deverá estar mais calmo, sendo que mantas naquele dia só no sofá.
Comigo viajam um casal grego e um alemão de 2m de altura, um bom gigante. Já tendo mergulhado com todos os presentes, sei que são mergulhadores confortáveis, mas não excepcionais, pelo que um local mais abrigado é sem dúvida muito melhor opção. Mal sabia eu o que me esperava!
(continua)
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Pézinhos de lã
domingo, 16 de novembro de 2008
Não sei se é por causa do frio, da humidade, da chuva ou dos diques, mas parece ser hábito em algumas casas holandesas o descalçar-se à entrada.
Na primeira casa onde estive, a do venerável chino-holandês Yon, descalçar os sapatos à entrada era regra. Ora, não se podendo dizer que a casa primasse pela limpeza geral (Yon, moço solteiro e bom rapaz que, como tal, tinha outras prioridades tais que não a limpeza do chão), decidi um dia não me descalçar à entrada, porque me irritavam solenemente as partículas que se agregavam às minhas meias. Naturalmente, mereci o reparo:
- Hey, you should take out your shoes...
- But the floor needs to be cleaned up, respondi.
- Yes, but there's no need to bring more dirt inside!
Sim, o mais provável era levar a dirt out! Mas pronto, um gajo tem de se calar...
Quando me mudei de casa, para a do simpático Surinamense Armand, ainda estavam a acabar de colocar o chão de madeira, pelo que havia farelo e pó um pouco por todo o lado:
- Hey Rafael, you'd better take out your shoes...
Nem respondi, corri logo para a entrada a descalçar-me.
Apesar do farelo, a parte verdadeiramente cómica estava para vir. Batem à porta dois simpáticos senhores, holandeses de seu robusto metro e noventa, munidos do seu fato-macaco oleoso e de bloco de notas em riste, técnicos não-sei-do-quê. Impressionado pelo aspecto profissional e porte altivo dos ditos, confesso que a desilusão foi profunda quando reparei que também eles exibiam umas meigas peúgas multicolores, quase fofas, como diria uma ex-aluna minha, em detrimento das másculas botas de biqueira de aço, deixadas à entrada...
A imagem das pegadas dos mastodontes no farelo dificilmente me sairá da memória...!
P.S.: Hoje já estou noutra casa, que espero definitiva - não se descalçam os sapatos à entrada. A quem possa interessar, aqui fica um par de utensílios que podem ajudar a contornar esta questão - resolve a questão psicológica e limpa!
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