Era dia de folga e, como tal, o meu cérebro decidiu dar-me uma noite inquieta e em vez de dormir folgadamente, às 07h45 já estava desperto. Perante este cenário, e tendo em conta o dia fabuloso que estava, decidi ter um dia de folga activo, ou seja, comecei por lançar umas dezenas de ataques estratégicos no meu vício actual (www.tribalwars.com.pt), tendo de seguida decidido ir tomar o pequeno-almoço.
Tarde demais, pois eram já 09h10 e a cantina fecha às 09h00. Plano B: Toblerone para o pequeno-almoço e de seguida ir dar a volta à ilha em Sea-Bob (ver post anterior). O sol estava forte e, como tal, a água reflectia o sol dando raios de cores espectaculares no azul do Atoll. Entre passeios demorados ao longo do recife de coral e “afundanços” vertiginosos a toda a velocidade, entretive-me durante mais de uma hora. Eis que volto ao centro de desportos aquáticos, onde encontro o Haleem, que mal me vê, diz: “Estou livre agora Paulo”.
O Haleem é um rapaz/homem muçulmano a quem o Natal nada diz. Duvido que saiba que o menino Jesus está nas palhinhas ou que saiba sequer que existe um presépio. Fez Biologia na escola e lembra-se bem da diferença entre peixes cartilagíneos (tubarões, raias e quimeras) e peixes ósseos (os outros) entre outras coisas de que já falámos em outras ocasiões. A vida, ou o facto de ter nascido nas Maldivas e ser pobre, não o deixou prosseguir os estudos, mas sempre que pode tenta aprender e fala comigo sobre o oceano. Perguntou-me há uns tempos se eu o podia levar a mergulhar, pois apesar de já ter montado e desmontado centenas de vezes equipamentos de mergulho para os hóspedes, ele nunca pode experimentar. Snorkelling ele faz muitas vezes como guia, mas mergulho nunca. Imagino como eu me sentiria se visse pessoas sem o mínimo jeito a fazerem algo que eu adoraria experimentar e nunca tivesse tido essa oportunidade pelo facto de ter nascido noutro meio.
O Haleem, apesar de inteligente e conhecedor, é tripulante básico da embarcação de mergulho e operacional do centro de desportos aquáticos. Trabalho simples, mas duro devido ao largo horário de trabalho, para o qual não são precisas aptidões intelectuais que ele tem.
Ofereci-me nessa conversa para o “baptizar” quando tivesse oportunidade, tendo essa oportunidade chegado. Fomos num instante pegar no equipamento e dirigimo-nos para a praia, onde saíam alguns clientes recém-baptizados por outro instrutor, neste caso o Vova. Expliquei-lhe o funcionamento do equipamento e eis que ele me pergunta se o ar que sai da garrafa vem frio. Reparo na altura que os olhos dele brilham como os de uma criança e que está ansioso por experimentar, não sabendo como se irá adaptar.
Começando o baptismo, é como se ele fizesse mergulho há muito tempo. As imensas horas de snorkelling ajudam, mas mais do que isso, é com naturalidade que ele me acompanha sem que eu precise de fazer rigorosamente nada. O mergulho voa no tempo e quando emergimos ele agradece-me com o maior sorriso do mundo. Ao caminharmos na praia de regresso ao centro de mergulho pergunta-me se pode continuar e fazer o curso completo. Digo-lhe que sim, desde que tenhamos tempo, indicando-lhe quais os próximos passos. Ao dizer isto os seus olhos brilham ainda mais intensamente que o sol forte sobre nós e penso que muito dificilmente teremos mais 5 ou 6 oportunidades destas em que o meu dia de folga coincida com umas horas livres dele, pelo que o seu sonho não deverá passar disso mesmo.
Sorrio de volta e agradeço-lhe silenciosamente por ter tornado o meu dia de folga num dia mais bonito e especial. Feliz Natal Haleem!
Tarde demais, pois eram já 09h10 e a cantina fecha às 09h00. Plano B: Toblerone para o pequeno-almoço e de seguida ir dar a volta à ilha em Sea-Bob (ver post anterior). O sol estava forte e, como tal, a água reflectia o sol dando raios de cores espectaculares no azul do Atoll. Entre passeios demorados ao longo do recife de coral e “afundanços” vertiginosos a toda a velocidade, entretive-me durante mais de uma hora. Eis que volto ao centro de desportos aquáticos, onde encontro o Haleem, que mal me vê, diz: “Estou livre agora Paulo”.
O Haleem é um rapaz/homem muçulmano a quem o Natal nada diz. Duvido que saiba que o menino Jesus está nas palhinhas ou que saiba sequer que existe um presépio. Fez Biologia na escola e lembra-se bem da diferença entre peixes cartilagíneos (tubarões, raias e quimeras) e peixes ósseos (os outros) entre outras coisas de que já falámos em outras ocasiões. A vida, ou o facto de ter nascido nas Maldivas e ser pobre, não o deixou prosseguir os estudos, mas sempre que pode tenta aprender e fala comigo sobre o oceano. Perguntou-me há uns tempos se eu o podia levar a mergulhar, pois apesar de já ter montado e desmontado centenas de vezes equipamentos de mergulho para os hóspedes, ele nunca pode experimentar. Snorkelling ele faz muitas vezes como guia, mas mergulho nunca. Imagino como eu me sentiria se visse pessoas sem o mínimo jeito a fazerem algo que eu adoraria experimentar e nunca tivesse tido essa oportunidade pelo facto de ter nascido noutro meio.
O Haleem, apesar de inteligente e conhecedor, é tripulante básico da embarcação de mergulho e operacional do centro de desportos aquáticos. Trabalho simples, mas duro devido ao largo horário de trabalho, para o qual não são precisas aptidões intelectuais que ele tem.
Ofereci-me nessa conversa para o “baptizar” quando tivesse oportunidade, tendo essa oportunidade chegado. Fomos num instante pegar no equipamento e dirigimo-nos para a praia, onde saíam alguns clientes recém-baptizados por outro instrutor, neste caso o Vova. Expliquei-lhe o funcionamento do equipamento e eis que ele me pergunta se o ar que sai da garrafa vem frio. Reparo na altura que os olhos dele brilham como os de uma criança e que está ansioso por experimentar, não sabendo como se irá adaptar.
Começando o baptismo, é como se ele fizesse mergulho há muito tempo. As imensas horas de snorkelling ajudam, mas mais do que isso, é com naturalidade que ele me acompanha sem que eu precise de fazer rigorosamente nada. O mergulho voa no tempo e quando emergimos ele agradece-me com o maior sorriso do mundo. Ao caminharmos na praia de regresso ao centro de mergulho pergunta-me se pode continuar e fazer o curso completo. Digo-lhe que sim, desde que tenhamos tempo, indicando-lhe quais os próximos passos. Ao dizer isto os seus olhos brilham ainda mais intensamente que o sol forte sobre nós e penso que muito dificilmente teremos mais 5 ou 6 oportunidades destas em que o meu dia de folga coincida com umas horas livres dele, pelo que o seu sonho não deverá passar disso mesmo.
Sorrio de volta e agradeço-lhe silenciosamente por ter tornado o meu dia de folga num dia mais bonito e especial. Feliz Natal Haleem!
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