A tradição já não é o que era

sábado, 22 de agosto de 2009

Aproveitando a tranquilidade caracterizante do Des-terro Açoriano, onde tenho passado parte das férias, volto à participação activa no nosso blog - por este facto, peço desculpa aos que nos lêem. Os outros, que se lixem!

Fiquei então deveras agradado com a notícia fresquinha do nosso Açoriano Oriental, sob a égide da parangona

"Detenções por conduzir sob efeito do álcool baixam com mulheres ao volante"


Ora, lendo o título pensei logo "grande iniciativa das senhoras condutoras, que fazem questão de sanar a coima no banco traseiro do veículo, para gáudio do agente da autoridade e de todos nós, pelo que se poupa em burocracia e manuntenção de estabelecimentos prisionais"! Brilhante!

Mas não. Afinal, as senhoras conduzem em estado de perfeita sobriedade, substituindo os maridos - esses sim, ébrios. A notícia destaca também alguns pormenores interessantes: "apenas se detectou uma infracção, entre as 20h00 e 02h00, curiosamente de um homem que acusou uma taxa entre 0,80 e 1,19, tendo sido aplicada uma contra-ordenação de 500 euros". Curioso, sem dúvida!!

Mas muito mais curiosa é a solução que a menina Sara Araújo, de 18 anos, arranjou para o facto de o amigo estar alcoolicamente incapacitado para conduzir: em Fevereiro, foi detida e apanhou uma multa de 350 euros porque "procurou levar o carro até casa" - a intenção era boa, pese embora o facto de, à data, não possuir licença de condução. Achou ela - e bem - que era mais seguro levar o carro até a casa sem carta do que pôr o amigo bêbado ao volante. Mas bem vistas as coisas, até foi barato - conduzir sem carta nem é assim tão perigoso. Felizmente, a moça já está a tirar a licença de condução, podendo em breve colocar o seu intelecto e aptidões automobilísticas ao serviço da comunidade. Um louvor à Sara!

Contudo, segundo nos adianta o serviço informativo, a emoção da noite estava guardada para a detenção de 3 indivíduos que:

- "alugaram diversas motos 4, com um grupo de amigos" - (diversas - para cima de muitas, provavelmente)

- "Foram apanhados quando entravam na freguesia de São Roque" (nunca lhes ensinaram que entrar na freguesia dos outros sem pedir licença é feio)

- "e notificados para comparecer no dia seguinte, no tribunal da Ribeira Grande." (o quê, sem coimas de €350? Isto sim, é discriminação! Ainda por cima, estragam as férias às pessoas, fazendo-as ir ao tribunal ao fim-de-semana)

- "Estranho é o facto dos três homens terem conseguido levantar as motos 4, mesmo sem possuírem habilitação legal para o efeito" (estranho é quem escreveu isto não saber que a capacidade de levantar motas depende da força de cada um - e que as habilitações hoje em dia não querem dizer nada)

- "uma situação que poderá motivar consequências negativas para a empresa de aluguer" (motivará de certeza, visto que perdeu pelo menos 3 bons clientes em época alta)

Posto tudo isto, as forças de autoridade manifestavam o seu contentamento: "Este é um novo conceito (pôr as mulheres ao volante), muito positivo, que prova que as acções de fiscalizações (várias) estão a produzir os seus efeitos e as pessoas tomam consciência que devem adoptar esse comportamento".

Portanto, resta-nos aceitar a mudança dos tempos e das vontades, ao ponto de até a milenar sabedoria popular ter de ser revista: "mulheres ao volante, perigo constante", nunca mais! Agora, deverá dizer-se "mulheres ao volante sem carta, bêbado constante"! Assim sim! A tradição já não é o que era...

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