Num dia de folga

quinta-feira, 12 de março de 2009


Sempre que pensamos que vamos terminar algo nas nossas vidas torna-se inevitável em nós a retrospectiva. Quer queiramos, quer não, temos esta “capacidade” para analisarmos o passado e perspectivarmos o futuro, sendo que a análise do passado é sempre toldada pela nossa particular e muito pessoal visão da realidade. Mas, se essa retrospectiva pode ser pouco clara, a perspectiva do futuro é, não raras vezes, muito mais turva.

Os planos que fazemos acabam na sua maioria por ser alterados pelas “circunstâncias”, termo muito usado com que costumamos descrever a vida. As ditas circunstâncias, que nós não prevíamos, não passam da vida no seu mais puro estado de acaso e imponderabilidade, factores que eu adoro, ao contrário de outros de vós que preferirão a previsibilidade, preferência essa que
a vida tende a contrariar ao virar da esquina do tempo.

Depois deste devaneio inconsequente, tentarei fazer a retrospectiva do tempo ido nesta experiência maldivana. Quase 6 meses se passaram (como também sou fã de clichés, cá vai: o tempo voa, ainda parece que foi ontem que cá cheguei, etc., etc.) e uma conclusão posso desde já tirar.

O mundo em que nos deslocamos é de tamanho variável, acabando por ser indiferente o seu tamanho, ou seja, vivendo nós numa ilha de 1 hectare ou numa grande capital, o raio em que nos movimentamos socialmente tende a ser de tamanho similar. Quando falo de raio não me refiro a raio quilométrico necessariamente, mas a raio social. Vamos aos mesmos sítios, saímos com as mesmas pessoas, fazemos as mesmas coisas, enfim, rotinamo-nos.

Eventualmente haverá um termo técnico para isto, assunto com que não me preocupo muito (se algum sociólogo estiver a ler isto é favor esclarecer os restantes leitores num comentário). Como em qualquer lugar, estabelecemos relações de amizade mais próximas com uns do que com outros, estabelecemos relações de inimizade mais “chegadas” com uns do que com outros e, acima de tudo, não estabelecemos relações de tipo algum com imensa gente, garante essencial para a manutenção da sanidade mental, nossa e dessa gente afastada.

É claro que há pessoas que conhecem imensa gente, cujos telemóveis e Hi5/Facebook/etc. têm centenas ou milhares de contactos, enquanto outras são felizes com umas dezenas (ou nem isso) de relacionamentos sociais. Pessoalmente, e como diria o “outro”, quanto mais conheço pessoas, mais gosto de animais, ou como diria “Eu”: se gostasse mais de gente do que de animais seria sociólogo ou psicólogo e não biólogo. Abro aqui uma honrosa excepção para as pessoas, conceito que distingo fortemente do conceito de gente. Será um conceito perfeitamente subjectivo, mas como é o meu, sou feliz com ele.

Já não me lembro muito bem da razão que me levou a escrever este texto, mas estou certo que seria uma belíssima razão. Quando me lembrar talvez escreva sobre ela.

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